Barroco é o nome dado ao estilo artístico que floresceu entre o final
do século XVI e meados do século XVIII,
inicialmente na Itália,
difundindo-se em seguida pelos países católicos da Europa e da América, antes de
atingir, em uma forma modificada, as áreas protestantes e alguns pontos do Oriente.
Considerado
como o estilo correspondente ao absolutismo e à Contrar-reforma,
distingue-se pelo esplendor exuberante. De certo modo o Barroco foi uma
continuação natural do Renascimento,
porque ambos os movimentos compartilharam de um profundo interesse pela arte da Antiguidade Clássica, embora interpretando-a
diferentemente. Enquanto no Renascimento o tratamento das temáticas enfatizava
qualidades de moderação, economia formal, austeridade, equilíbrio e harmonia, o
tratamento barroco de temas idênticos mostrava maior dinamismo, contrastes mais
fortes, maior dramaticidade, exuberância e realismo e uma tendência ao
decorativo, além de manifestar uma tensão entre o gosto pela materialidade
opulenta e as demandas de uma vida espiritual. Mas nem sempre essas
características são bem evidentes ou se apresentam todas ao mesmo tempo. Houve
uma grande variedade de abordagens que foram englobadas sob a denominação
genérica de "arte barroca", com certas escolas mais próximas do
classicismo renascentista e outras mais afastadas dele, o que tem gerado muita
polêmica e pouco consenso na conceituação e caracterização do estilo.
Para
diversos pesquisadores o Barroco constitui não apenas um estilo artístico, mas
todo um período histórico e um movimento sociocultural, onde se formularam
novos modos de entender o mundo, o homem e Deus. As mudanças introduzidas pelo
espírito barroco se originaram, pois, de um grande respeito pela autoridade da
tradição clássica, e de um desejo de superá-la com a criação de obras
originais, dentro de um contexto que já se havia modificado profundamente em
relação ao período anterior.
Barroco Brasileiro
Suposto retrato póstumo de Aleijadinho
realizado por Euclásio Ventura no século XIX.
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O estilo
barroco chega ao Brasil pelas mãos dos colonizadores, sobretudo portugueses,
leigos e religiosos. Seu desenvolvimento pleno se dá no século XVIII, 100 anos
após o surgimento do Barroco na Europa, estendendo-se até as duas primeiras
décadas do século XIX. Como estilo, constitui um amálgama de diversas
tendências barrocas, tanto portuguesas quanto francesas, italianas e
espanholas. Tal mistura é acentuada nas oficinas laicas, multiplicadas no
decorrer do século, em que mestres portugueses se unem aos filhos de europeus
nascidos no Brasil e seus descendentes caboclos e mulatos para realizar algumas
das mais belas obras do barroco brasileiro. Pode-se dizer que o amálgama de
elementos populares e eruditos produzido nas confrarias artesanais ajuda a
rejuvenescer entre nós diversos estilos, ressuscitando, por exemplo, formas do
gótico tardio alemão na obra de Aleijadinho (1730 - 1814). O movimento atinge o
auge artístico a partir de 1760, principalmente com a variação Rococó do
barroco mineiro.
Durante o
século XVII a Igreja teve um importante papel como mecenas na arte colonial. As
diversas ordens religiosas (beneditinos, carmelitas, franciscanos e jesuítas)
que se instalam no Brasil desde meados do século XVI desenvolvem uma
arquitetura religiosa sóbria e muitas vezes monumental, com fachadas e plantas
retilíneas de grande simplicidade ornamental, bem ao gosto maneirista europeu.
É somente quando as associações leigas (confrarias, irmandades e ordens
terceiras) tomam a dianteira no patrocínio da produção artística no século
XVIII, momento em que as ordens religiosas veem seu poder enfraquecido, que o
barroco se frutifica em escolas regionais, sobretudo no Nordeste e Sudeste do
país. Contudo a primeira manifestação de traços barrocos, se bem que misturado
ao estilo gótico e românico, pode ser encontrada na arte missionária dos Sete
Povos das Missões na região da Bacia do Prata.
Ali se desenvolveu, durante um
século e meio, um processo de síntese artística pelas mãos dos índios guaranis
com base em modelos europeus ensinados pelos padres missionários. As
construções desses povos foram quase totalmente destruídas. As ruínas mais
importantes são as da missão de São Miguel, no Estado do Rio Grande do Sul.
Ruínas de São Miguel hoje. |
Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. |
As primeiras
manifestações do espírito barroco no resto do país estão presentes em fachadas
e frontões, mas principalmente na decoração de algumas igrejas, também em
meados do século XVII. A talha barroca dourada em ouro, de estilo português,
espalha-se pela Igreja e Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, construída entre
1633 e 1691. Os motivos folheares, a multidão de anjinhos e pássaros, a figura
dinâmica da Virgem no retábulo-mor, projetam um ambiente barroco no interior de
uma arquitetura clássica. A vegetação barroca é introduzida na Bahia no fim do
séc. XVII na decoração, por exemplo, da antiga Igreja dos Jesuítas, atual
Igreja Catedral Basílica, cuja construção da capela-mor, com seus cachos de
uva, pássaros, flores tropicais e anjos-meninos, data de 1665-1670.
No Recife
destaca-se a chamada Capela Dourada ou Capela dos Noviços da Ordem Terceira de
São Francisco de Assis, idealizada no apogeu econômico de Pernambuco, em 1696,
e finalizada em 1724.
Capela Dourada |
Entre os anos
de 1700 e 1730 uma vegetação de pedra esculpida tende a se espalhar nas
fachadas, como imitação dos retábulos, seguindo a lógica da ornamentação
barroca.
Em 1703 o dinamismo conquista o exterior pela primeira vez de forma
ostensiva na fachada em estilo plateresco da Igreja da Ordem Terceira de São
Francisco da Penitência, em Salvador. No entanto, vale notar que tal
exuberância representa uma exceção no barroco brasileiro, pois mesmo em seu
período áureo as igrejas barrocas nacionais, tal como as portuguesas, são
marcadas por um contraste entre a relativa simplicidade de seus exteriores e as
ricas decorações interiores, simbolizando dessa forma a virtude do
recolhimento, requisito necessário à alma cristã. Esses primeiros 30 anos
marcam a difusão no Brasil do estilo "nacional português", sem
grandes variações nas diversas regiões.
Igreja da Ordem Terceira de São
Francisco da Penitência
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Surge então um
novo ciclo de desenvolvimento do barroco entre meados de 1730 e 1760,
com predominância do estilo português "joanino", cuja origem
remonta ao barroco romano. Há uma significativa barroquização da arquitetura
com a construção de naves poligonais e plantas em elipses entrelaçadas.
Destaca-se no período, com ressonâncias posteriores, a atuação dos artistas
portugueses Manuel de Brito e Francisco Xavier de Brito.
Nota-se que,
em meados do século XVIII, a perda da força econômica e política inicia um
período de certa estagnação no Nordeste, com exceção de Pernambuco, que conhece
o estilo rococó na segunda metade do século. O foco volta-se para o Rio de
Janeiro, transformada em capital da colônia em 1763, e a região de Minas
Gerais, desenvolvida à custa da descoberta de minas de ouro (1695) e diamante
(ca. 1730). Não por acaso, dois dos maiores artistas barrocos brasileiros
trabalham exatamente nesse período: Mestre Valentim (ca. 1745 - 1813), no Rio de
Janeiro, e o Aleijadinho, em Ouro Preto e adjacências.
É na suavidade
do estilo Rococó mineiro (a partir de 1760) que se encontra a expressão mais
original do barroco brasileiro. A extrema religiosidade popular, sob o
patrocínio exclusivo das associações laicas, se expressa em um espírito contido
e elegante, gerando templos harmônicos e dinâmicos de arquitetura em planos
circulares, com graciosa decoração em pedra-sabão. As construções monumentais
são definitivamente substituídas por templos intimistas de dimensões singelas e
decoração requintada, mais apropriados à espiritualidade e às condições
materiais do povo da região.
Igreja da Ordem Terceira de
São Francisco de Assis da Penitencia.
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Um dos
exemplos mais bem-acabados desse estilo pode ser contemplado na Igreja da Ordem
Terceira de São Francisco de Assis da Penitência (1767), cujo risco,
frontispício, retábulos laterais e do altar-mor, púlpitos e lavabo são de
autoria de Aleijadinho. A pintura ilusionista do teto da nave (1802) é de um
dos mais talentosos pintores barrocos, Manoel da Costa Athaide (1762 - 1830).
Destaca-se ainda a parceria dos dois artistas nas esculturas de madeira
policromada (1796 - 1799) representando os Passos da Paixão de Cristo para o
Santuário do Bom Jesus dos Matozinhos, em Congonhas do Campo.
No adro desse
santuário, Aleijadinho deixa o testemunho mais eloquente de seu talento
artístico: seus 12 Profetas de pedra-sabão (1800 - 1805).
12 Profetas |
Igreja da Ordem Terceira de São
Francisco de Assis da Penitência
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No Rio de
Janeiro a presença lusitana se faz sentir mais fortemente. Distingue-se das
outras cidades pela tendência à sobriedade neoclássica, reforçada pelas
influências no Brasil da reforma pombalina.
Na arte civil (por exemplo: Passeio Público, de
1779 - 1785 e Chafariz da Pirâmide, de
1789) e sacra de Mestre Valentim o perfeito equilíbrio entre os postulados
racionais do classicismo, a dinâmica e grandiloquência do barroco e um certo
sentido de preciosismo e delicadeza da estética rococó, sintetiza
brilhantemente o espírito da arte carioca da segunda metade do século XVIII.
Chafariz da Pirâmide |
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